Conhecendo, Identificando e Avaliando o Autismo
Uma
criança utiliza vários meios para aprender: através de brincadeiras, com o
contato com os pais, diante das interações com os colegas, e com os professores.
Se socializa, faz amizades, observa, questiona, adquire habilidades motoras e
cognitivas.
Para uma criança autista, as coisas não
funcionam assim. Há uma relação diferente entre o cérebro e os sentidos, e as
informações nem sempre se concretizam em ganho de conhecimentos.
Para uma criança sem comprometimentos, o
mundo exterior é estimulador para o aprendizado e através de suas relações com
ele, ela aprende os nomes dos objetos, podendo utilizá-los de forma funcional ou
simbólica nas brincadeiras. No autismo, sua interação social é prejudicada, os
objetos passam a ter funções apenas sensoriais, com pouca contribuição
cognitiva, simbólica e de nomeação, e aí, surgem os déficits com a
linguagem.
O
autismo compreende a observação de um conjunto de comportamentos agrupados em
uma tríade: comprometimentos na comunicação, dificuldades de interação social e
comportamentos repetitivos e estereotipados.
Na
avaliação de um paciente com suspeita de Transtorno do Espectro do Autismo, é
necessário, em um primeiro plano, decidir se há evidências suficientes da
existência do transtorno, e após, determinar se possivel, sua(s) causa(s)
biológica(s) ou sociais.
É
importante obter detalhadas histórias sociais, familiares, do desenvolvimento e
do passado clínico e avaliar o comportamento funcional da criança em um contexto
interativo.
A
avaliação neuropsicológica é realizada por um neuropsicólogo que é também
psicólogo clínico. Ela abrange a investigação da memória, do funcionamento
executivo, das habilidades cognitivas e comunicativas, dos comportamentos
disruptivos, estereotipados ou que demandam atenção, da cognição social e da
Teoria da Mente.
Crianças autistas não apresentam
interação social com os pais, quando bebês, costumam não ter sorriso social,
além de pobre contato visual. Podem mostrar ansiedade extrema diante de mudanças
na rotina, em idade escolar mostram prejuízos na capacidade de interação e de
brincar com seus pares.
Estereotipias, maneirismos e caretas são
muito comuns. Distúrbios do sono e alimentares, hipersensibilidade aos estímulos
sensoriais são típicos em crianças autistas.
A
falta de compreensão ou a incapacidade de comunicar-se podem levar à
manifestações de agressividade e de condutas opositoras.
Déficits na linguagem estão entre os
critérios para o diagnóstico de autismo. Vocabulário diferenciado, fala
ecolálica, comprometimento global da linguagem (recepção, produção fonológica,
sintaxe, semântica e pragmática) com prejuízos da prosódia da fala.
O
perfil típico na avaliação cognitiva é marcado por déficits significativos de
raciocínio abstrato, formação de conceitos verbais e habilidades de integração e
nas tarefas que requerem um certo grau de raciocínio verbal e compreensão
social.
Pacientes autistas apresentam uma
predileção por rotinas e invariâncias, aspecto que pode estar relacionado a
possíveis prejuízos das Funções Executivas.
Apresentam também, uma preferência por
testes de reconstrução visual das partes para o todo, em detrimento de tarefas
de raciocínio conceitual e social (Coerência Central).
O
que se percebe também na avaliação neuropsicológica do autista, é a sua
incapacidade ou a sua limitação em deduzir os sentimentos ou o estado mental de
seus pares, tornando-o assim, incapaz de interpretar o comportamento social do
outro, o que o leva a uma falta de reciprocidade social.
Seja qual for a idade da criança, o
psicólogo clínico/neuropsicológo precisa conhecer as áreas centrais da
avaliação:
- História médica e social
- Comportamento (observações durante a testagem)
- Eficiência Intelectual
- Aprendizagem educacional
- Funções Executivas
- Atenção – Memória
- Linguagem
- Habilidades sensório-perceptivas
- Habilidades Motoras-finas e amplas
- Habilidades visuoconstrutivas e visuoperceptivas
- Capacidade de meta-representação
- Habilidades Sociais
A
avaliação de crianças em idade pré-escolar (até 5 anos) deve focar mais as
capacidades lingüísticas e as observações comportamentais, pois há poucos testes
padronizados para essa idade. Portanto, para se obter resultados quantitativos,
ainda que limitados, em alguns poucos testes, serão necessárias criatividade e
flexibilidade da parte do neuropsicólogo, que, às vezes, precisa usar abordagens
de testagem não-ortodóxias.
A
avaliação neuropsicológica é longa, e consta de uma sessão de entrevista
diagnóstica com os pais, de 5 a 6 sessões com o paciente e uma sessão devolutiva
com os pais. É importante também, durante o processo diagnóstico, fazer um
contato com a escola e com os profissionais que trabalham com o
paciente.
O
objetivo da avaliação neuropsicológica do paciente com autismo, é, portanto,
identificar os pontos fortes e fracos do aprendizado, da cognição e do
comportamento, de modo que os adultos (médicos, pais, professores e
profissionais da área clínica) possam fornecer o apoio acadêmico e
comportamental adequado às suas necessidades.
Licia Falci Ibraim
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