domingo, 5 de agosto de 2012




Mariluce Caetano
 RECOMENDO A LEITURA.

 Como sempre digo: CUIDAR DOS PAIS, OS MELHORES TERAPEUTAS.

 Complementando "O nome do pai", anexo aqui cópia de e-mail enviado ao Alysson no dia 23/maio/2011

 Prezado Alysson: pessoas como você dão-me a certeza de que sempre tive razão em me orgulhar de ser brasileiro (e veja que nem nasci no Brasil, sou naturalizado, e talvez seja exatamente essa condição que me favoreça enxergar as potencialidades deste povo generoso e sábio). Escrevo para comentar o pouco que li sobre suas pesquisas, e acho que você deveria ler e refletir, mesmo com todo esse seu trabalho que consome seu tempo.
 Sou psicanalista. Quando meu filho foi diagnosticado com Transtorno Invasivo, o único saber que eu detinha era o da Psicanálise, então tentei entender o autismo à luz do legado de Freud e seus seguidores. Curiosamente, essa foi uma linha inédita, que ninguém havia pensado ou executado, e trouxe inúmeros ganhos. Em pouco tempo, criei um projeto em uma Associação onde colocava em prática métodos terapêuticos derivados dessa compreensão. Parte dessa experiência está em um site que desenvolvo em gotas, chamado ilove.terra.com.br/manuel_gil/principal.asp.
 Onde desejo chegar? Ao ponto que você cita sobre o questionamento do autismo como doença. Lendo compulsivamente, busquei um evento cerebral que justificasse as características autistas, e me deparei com os Fatores Neurotróficos. Concluí que uma deficiência qualitativa nesses fatores causaria tais características, como a resistência à dor ou o cérebro aumentado. Desenvolvi um método que privilegiava ambientes propícios ao aumento desse fatores (sons baixos, cores adequadas, apresentação de figuras, redução do stress). Chamei a isso “dieta sensorial”. Especialmente, percebi que o erro cometido nas intervenções com autistas era a tentativa de extinguir seus rituais.
 Pensei: geralmente, rituais são culturais, mas não é assim com autistas. Setenta milhões no mundo todo, em todas as culturas, raças, religiões, classes sociais, democraticamente espalhados, e todos apresentam os mesmos rituais. Classifiquei “ritual” como sendo “todo hábito que não compreendemos” e “hábito” como “todo ritual que pensamos compreender”. E passei a não só aceitar os rituais autistas, como, eventualmente, a imitá-los, fazê-los junto com a criança. Isso tem um motivo:
 Pensemos no sentido do equilíbrio: os terminais nervosos dos canais das utrículas têm que se comunicar com o cerebelo, para que o equilíbrio se faça. Esse sistema não está pronto em bebês, e é necessário um longo treinamento para que se aperfeiçoe. Num cérebro autista, o treinamento é mais longo ainda, então eles giram em círculos ou andam na ponta dos pés, para executar esse treinamento. À medida em que aceitamos que executassem esses rituais, o equilíbrio foi melhorando e os rituais diminuindo, até sua completa extinção, sem que tivéssemos que usar métodos da psicologia comportamental para sua eliminação. Como benefício secundário, melhorou sensivelmente a comunicação e a empatia entre a criança e o cuidador que o acompanhava em seu giros.
 No reverso dessa medalha, a tentativa de extinguir rituais cria sujeitos ego-distônicos (chamo a isso, para melhor compreensão, de Síndrome do Michael Jackson, o indivíduo que não se aceita como é). A ego-distonia detona comportamentos autodestrutivos e agressivos, e leva ao isolamento social, perpetuando o autismo. Compreensível: como posso eu me aceitar como sou, se todos os adultos que dizem que me amam tentam mudar meu ser, não me aceitam desta maneira? A resposta inconsciente: não sou capaz de mudar, mas posso me destruir.
 Chamei a esse projeto “O Dom do Autismo”, e criei formas de avaliação e acompanhamento que permitissem aos cuidadores visualizar e favorecer esse dom. A apresentação do dom pela criança autista promove sua socialização natural: as outras crianças se aproximam, em busca de um pouco daquele conhecimento especial que o autista apresenta.
 Sobre os Fatores Neurotróficos: versões qualitativamente deficientes impedem a fagocitação adequada, especialmente da bainha de mielina que recobre os axônios. Quando estes últimos fazem apoptose, os nódulos de Ranvier desaparecem, em função do “espalhamento” provocado pela perda do núcleo e a morte celular. A não remoção dessa células mortas dificulta as sinapses e o trabalho posterior dos oligodendrócitos para refazer a bainha. Esse modelo explicaria porque parte dos autistas fala, mesmo que poucas palavras, e para de falar em torno dos dezoito meses, e explicaria também porque grande parte dos autistas têm o cérebro maior.
 Na impossibilidade de “curar” tais Fatores, imaginei que a quantidade maior poderia suprir em parte essa carência, daí a dieta sensorial (sabe-se, por exemplo, que a apresentação de figuras aumenta em aproximadamente oito vezes a produção de BNDF e GNDF; sabe-se também que a introdução desses Fatores em cobaias aumenta potencialmente a sensação de dor; sabe-se que frequências sonoras acima de 9.0hertz fazem cessar a fagocitação).
 Enfim, como tinha apenas a Psicanálise, tinha que trabalhar com o comportamento observável, imaginar o que se passava naquela caixa fantástica e criar um método não invasivo de intervenção. Foi o que fiz, acompanhando um raciocínio lógico, assumidamente não científico (mas Psicanálise não é ciência, nem deve desejar sê-la), trabalhei crianças autistas que, coincidentemente, obtiveram um crescimento significativo. Como bônus, temos descoberto dons especiais e maravilhosos nessas crianças.
 Seria maravilhoso, em especial para mim e para as minhas crianças, se você pudesse analisar estas palavras à luz da sua pesquisa e da sua ciência.
 Um abraço.
 Manuel Vázquez Gil.

 Autismo e outros dons - Manuel Vasquez Gil
 ilove.terra.com.br


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