Conhecem Donna Williams?
Conhecem Donna Williams? Pois é... isso me faz questionar se neste tipo de caso (assim como Temple Grandin) houve o tal "erro de diagnóstico" ou realmente elas conseguiram sair do espectro autista. Fica o questionamento. Eu acredito na segunda opção (opinião pessoal). Acredito que em casos de autismo leve, que estão surgindo a todo momento, existe SIM a possibilidade de reverter a situação. Por isso, nunca desanime, nunca desista. Lute, com todas as suas forças, tenha fé, e assim como eu, vocês terão a doce recompensa de saber que estão no caminho certo.
Donna Williams nasceu em 1963 na Austrália. Em 1965
foi-lhe diagnosticado autismo.
Antes de lhe ser diagnosticado Donna era considerada
louca, com distúrbios emocionais.
Hoje Donna Willians é casada, trabalha como consultora
numa escola, participa em palestras sobre autismo e também escreve música, pinta
e faz esculturas.
Donna Williams
Texto extraído do site da autora
de “ Nobody Nowhere”, “Somebody Somewhere”
e outros livros autobiográficos.
Tradução de Mônica Accioly
Nasci em 1963, numa cidade da Austrália, durante os anos do rock and roll, época em que não se ouvia falar de “autismo”, embora tal condição sempre tenha existido. Cresci numa família que tinha mais problemas do que eu, e passei os meus primeiros 24 anos de vida com o diagnóstico de alergia a derivados do leite, intolerância alimentar e medicamentosa. Em outras palavras, eu parecia um usuário de LSD e cocaína, sem nunca haver tocado em nada disso. Minha cabeça estava sempre longe, não conseguia responder a uma pergunta direta, nem permanecer sentada, nem fazer um trabalho, nem perceber o que eu era capaz de entender, e o que não.
Fui rotulada de perturbada emocionalmente, com distúrbio de comportamento, e fui submetida a diversos testes de audição.
Confinada em meu caos de percepções e emoções, eu tentava. Somente depois dos nove anos eu consegui entender o significado de três frases seguidas. Eu era cega e surda para o significado , mas aprendi a compreender os padrões e conseguia perceber mudanças e turnos com facilidade, embora não tivesse muita habilidade para interpretá-los. Eu não tinha idéia porquê as pessoas faziam isso ou aquilo, mas eu sabia que as pessoas eram reais; se iam começar a brigar; se tentavam invadir o meu mundo. Meus sentidos e percepções eram caóticos, fragmentados, mudavam e flutuavam constantemente, e eu sempre demorava tanto a entender as coisas, que parecia não somente desligada , mas ainda por cima muito perturbada emocionalmente. Eu memorizava seqüências de sons de canções, “jingles” e comerciais, e passava o tempo todo cantarolando.
Eu amava a vida e o mundo sensorial. Meu reflexo no espelho era o meu melhor amigo e também minha família.
Eu era fascinada pela selvageria das ruas onde uma criança estava sujeita a todo tipo de aventuras e seus horrores . Quando fiz nove anos, comecei a tomar zinco, vitamina C e outras vitaminas, e percebi que as coisas tinham sentido e não apenas padrões. Quando completei quinze anos, minha família que já vivia brigando, não pode mais conviver e eu tentei me defender me interiorizando, sem saber que todos somos vulneráveis às vontades e preconceitos das outras pessoas.
Com a minha sorte, depois de toda uma vida de infecções de ouvido e pulmões crônicas, asma e artrite juvenil, minha saúde entrou em colapso quando completei 24 anos. Foi nesta época que os sérios problemas digestivos e imunológicos desta “garota lunática” foram finalmente percebidos , dando início a uma jornada de mais de uma década de tratamento para as alergias que haviam me aprisionado em cela invisível. Após um ano em tratamento com nutricionistas experientes, as grades da minha cela invisível começaram a se dissolver.
Escrevi minha autobiografia, Nobody Nowhere, nesta época de caos e desequilíbrio, numa última e desesperada tentativa de compreender onde eu havia estado, e perguntar se haveria esperança depois de todo o meu esforço em construir uma “vida”. O livro, o primeiro de uma série de seis, inicialmente não chamou atenção na Inglaterra, mas tornou-se subitamente um bestseller internacional sendo a primeira publicação autobiográfica de autor com o diagnóstico de “autismo”.
Mas eu sou mais que uma autista. Eu sou Donna (levei toda a minha infância para fazer a conexão de que todo nome está ligado à sensação de ser uma pessoa). Sou selvagem e confusa , com um veia incrivelmente travessa, propensa a fobias e a compulsões, fortemente determinada a lutar pelo meu equilíbrio e independência , com um grande amor pela possibilidade da interação e descoberta.
Encontrei uma pérola de pessoa, com tanto brilho que o pedi em casamento. Chris me adora pelo que sou e até mesmo durante as mudanças causadas pelos transtornos da minha dieta. Nós moramos com a nossa gata Tommy nas colinas Malvern, um lugar verde no interior da Inglaterra, uma cabeça de alfinete no centro do mapa da Grã-Bretanha.
Eu acredito na liberdade de ser você mesmo, em desafiar nossas próprias idéias para nos auto descobrir, em ousar a ser corajoso frente a mudanças e críticas, porque não há nada melhor na vida do que a possibilidade de realizarmos uma constante busca pelo auto conhecimento, e descobrirmos durante o processo, o que não somos. Meus objetivos de vida são a aventura, o afeto, fazer parte e ser igual. A música, a escultura e a escrita são meios de que disponho para falar comigo mesma , ou com o mundo, se ele assim o quiser. A primeira beneficiada, no entanto, sou eu.
Eu acredito em Deus, no Deus dentro de mim, num equilíbrio interno muito mais profundo do que a mente ou a consciência possam averiguar. Quando eu tenho uma dúvida ou preciso de orientação, eu não pretendo saber a resposta , mas faço a pergunta, explico o desejo da mudança, como se o fizesse para o vento. Pela manhã, tenho a resposta. Assim é Deus, o desenredar dos novelos invisíveis . Eu tento ver além do inimigo dentro de mim mesma e de minhas crenças rígidas, absolutas, em branco e preto, e descobrir quem é quem e o que é cada coisa. Eu acredito em tentar, em permanecer feliz , com entusiasmo, e enxergar o mundo cor-de-rosa. Creio na força de quem ousa ser humilde.
Eu faço consultoria para escolas, dou palestras, workshops, tanto para o Serviço Nacional de Saúde, Associações de Autismo, quanto para o público em geral. Na minha primeira conferência nos EUA, eu sentei e chorei durante os primeiros cinco minutos. O público permaneceu em silêncio, paciente, e fiquei tão agradecida por eles não tentarem me controlar ou falar comigo, simplesmente esperarando, confiando. Eu agradeci a esta atitude respeitosa, me levantando e lendo as páginas que não podia compreender naquele estado de “fechamento”, até que as palavras começaram a fazer sentido. Neste ínterim, eu olhei para eles, tornei a chorar mas continuei. Eles me ensinaram que , não importa a situação, eu podia sempre me atrever a ser eu mesma.
Deram-me muito mais do que eu poderia oferecer-lhes. Hoje em dia, apenas me apresento e me preocupo em falar alto, para que todos possam escutar-me. Eu até me aventuro a permitir perguntas, às quais respondo diretamente.
Ainda que eu seja criticada ou admirada e, seja qual for a razão que tenha te trazido ao site desta que um dia foi uma “garota lunática”, com mais rótulos do que um vidro de geléia, eu tenho orgulho de ser eu mesma e sinta-se à vontade para ser você mesmo.
Donna
O marginal, pintura de Donna |
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