segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Relato de uma mãe

Giovana, muito prazer!

Olá. Hoje vou falar um pouquinho do "grau" de autismo da Gica. Sei que já falei sobre isso antes, mas as vezes ouço cada coisa... e senti necessidade de colocar alguns pontos nos "is".
A Gica não tem qualquer tipo de retardo mental. Muito pelo contrário. Ela é muito inteligente e esperta. Nos espanta a capacidade dela em ser autodidata. Aprende muito facilmente e, na maioria das vezes, de forma meramente "observadora". Já está lendo algumas palavras e sabe digitar seu nome e o da mana. Também sabe o site que ela mais gosta (discoverykidsbrasil.com.br). O alfabeto já sabe há um tempo, gosta das letras e se interessa em formar palavras com elas. Também tem noção considerável dos números. Imagina histórias com as figuras dos livros e conta, de acordo com a sua imaginação. Ela tem 4 anos, fala (aí tem alguma dificuldade, mas pouca - considerando que ela começou a falar este ano) e gosta de sua independência. Escolhe os acessórios para o cabelo, escolhe os brinquedos ou livros que quer levar no dia do brinquedo da escola. Escolhe suas músicas favoritas ("avião sem asa", como ela diz). É um tanto brabinha, discute com a irmã, quando esta não quer fazer o que ela quer. Reclama comigo, quando o pai "ralha" com ela e, ao contrário também. Geralmente escolhe o seu cardápio (massa com molho branco é o seu prato favorito, além das batatinhas...).
Talvez algo que eu nunca tenha dito à vocês é que em consulta com a neuropediatra Maria Sônia, eu fiz a pergunta que toda mãe de autista quer saber: "- qual o grau..." mas ela adivinhou o que eu perguntaria, e antes mesmo que eu terminasse, ela falou: "você quer saber o grau de penetrância do autismo na Giovana?", eu acenei com a cabeça que sim e ela me respondeu : "-baixo, muito baixo"...

Engraçado é que nunca senti necessidade de falar isso, mas ultimamente tenho tido esta vontade, pois achei que devia compartilhar este "pequeno" detalhe. É claro que fico extremamente feliz com esta impressão de uma médica atualizada, informada e competente como a dra. Maria Sônia. Talvez nunca tenha falado nisso, porque ultimamente virei uma defensora ferrenha de todos os autistas, sejam eles de graus mais comprometidos ou não. Quem me conhece sabe o quanto luto pela causa que abracei orgulhosamente. E sempre lutarei, mesmo que um dia eu receba a maravilhosa notícia que minha filha não possui mais traços autísticos. É a minha missão, mesmo. Amo todos, sem distinção e sonho em ser uma espécie de anjo da guarda de cada um.

Então, voltando ao "grau" de autismo da Giovana, antes de você olhar para mim ou para minha filha de uma maneira piedosa, saiba que o que difere ela dos outros é meramente comportamental - e não capacitiva. E saiba que ela ainda pode (e vai) te surpreender.

Mudando um pouco o foco, queria contar que a Gica está indo super bem na escola, é um grude com a profe Paty e tem seus amigos prediletos. Ontem, eu espiei de longe uma situação bem legal. A Paty perguntou para a Gica o que ela preferia trazer no dia seguinte (na festa junina da turminha) : -"negrinho ou bolo?" ... então ela respondeu : "-bolo" (é... apesar de não gostar -hahahahaha- ela sabe que eu gosto de fazer bolos, resposta pra lá de certa, Gica!). O jeito com que a Paty fala com ela é como eu gostaria que as pessoas falassem... de forma clara, olhando nos olhos, fazendo ela entender realmente que se está falando com ela. Deste jeito, ela responde, de outra maneira não. E não adianta tentar forçar a barra com ela, porque ela só vai te beijar e abraçar se realmente gostar de você! E isso ela tem feito diariamente com a Paty. Tenho certeza que ela só faz isto, porque sente reciprocidade da outra parte. Aliás, uma última coisa: todo autista é muito autêntico e muito verdadeiro.

O que é mais gostoso do que tomar mamá no colo da profe?

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