domingo, 5 de agosto de 2012


Saber dar ordens


Todas as crianças, em determinadas alturas da sua vida precisam que se lhes diga o que devem fazer ou o que se espera delas. É o primeiro passo da aprendizagem: a palavra (o segundo é a acção). Principalmente os filhos mais pequenos têm muitas vezes de ser ensinados antes de se lhes poder ser exigido que façam algumas coisas por si. Não vamos dizer a uma criança de sete anos "estuda" ou "arruma o quarto" se nunca lhe explicámos ou mesmo demonstrámos como isso se faz. Será necessário primeiro ajudá-la a realizar essas tarefas, várias vezes, até nos apercebermos, em função da sua idade e do seu grau de desenvolvimento, que ela já é capaz de as executar sozinha. Se necessário, devemos desmontar uma ordem mais complexa em pequenos passos e ensinar cada um deles em separado, até que todo o conjunto possa ser realizado sem problemas.

Por: Pediatra Paulo Oom

Como lidar com problemas de comportamento: time out ou o 1, 2, 3


É muito comum ouvir os pais dizer, independentemente da nacionalidade, que se uma bofetada não os matou quando eram pequenos, também não é isso que vai fazer mal aos seus filhos.

Estamos a falar de um castigo físico na educação que, apesar de alguma forma ser aceite a nível social, tem mais efeitos negativos do que alguns pais desejariam. Não só porque acabam por se arrepender a seguir, como percebem que não tem efeitos práticos em termos de aprendizagem para os filhos.

Uma bofetada, um açoite, só serve para mostrar a incapacidade do adulto em lidar com a criança, a impotência perante aquele filho/a. A educação deve basear-se na comunicação, na imposição de limites e regras desde muito cedo, no auxílio à criança para lidar com as contrariedades que vão aparecendo.

E como vê a criança o castigo? Quando agiu mal, sabe que será castigada, sendo que o castigo servirá para aliviar o seu sentimento de culpa pelo mal causado.

Quando o castigo é físico, e se é frequente, insensibilizará a criança. Os gritos são também de evitar, pois só lhe mostram que conseguiu o que de facto a criança queria: a atenção dos pais.

Há estratégias para lidar com o mau comportamento das crianças, sem castigos físicos ou gritos. Deixo-lhe aqui duas: o “time-out” e a técnica 1-2-3.

Para acalmar a criança e acalmar-se a si, pode retirar o seu filho do local onde aconteceu a asneira e levá-la para um outro lugar onde possa estar sentado, mas sem distracções. Deve explicar-lhe que ficará ali uns minutos até se acalmar e que não pode sair enquanto não lhe for permitido.

Esta técnica, denominada “time-out”, não é um castigo. Tem como objectivo ajudar a criança controlar-se internamente, a acalmar-se e a pensar no que fez.
Durante o “time-out “não deve dar-lhe atenção, nem mesmo para lhe explicar que o que fez foi errado. Fazê-lo neste momento é contraproducente e acabará por tornar esta técnica ineficaz.

Outra questão a ter em conta é o tempo que a criança deve permanecer no “time-out”. O cálculo a fazer é de um minuto por cada ano de vida, sendo uma técnica que pode ser aplicada a partir dos dois anos de idade.

Para uma criança de dois anos ficar dois minutos ficar quieta, sentada, já vai ser uma eternidade. Não deve ser deixada sozinha mais tempo, pois acabará por se chatear, distrair e voltar a fazer uma asneira.

A contagem 1-2-3 é uma variante do “time-out” e pode ser usada mesmo com os adolescentes. Partimos do mesmo princípio, temos uma birra a que queremos pôr termo, um comportamento que não queremos que continue. De novo, não adianta explicar, dialogar, persuadir, pois todo e qualquer diálogo só servirá para alimentar o problema.

Vai somente contar até três: 1-2-3.

Esta contagem tem por finalidade dar o tempo necessário ao seu filho para se acalmar e para se reorganizar emocionalmente. Pode explicar-lhe que vai contar até três e que, quando acabar, terminará também o choro e a birra.

A contagem deve ser lenta, dando tempo entre cada número: 1-2-3, sem comentários seus pelo meio, sem responder à criança ou contra-argumentar. Nem é necessário que mantenha contacto ocular.

Deve só dizer : “Vou começar a contar: 1… (pausa) a criança ou o jovem, continuarão a insistir na birra; 2 … (pausa) começarão a perceber que não vale a pena continuar a testá-lo ou a manipulá-lo, e começarão a enfraquecer a sua fúria, começam a organizar-se internamente e quando chegar a 3 tudo deverá ter terminado.

Não há mais comentários. Será a “bonança depois da tormenta”.

Por: Zélia Parijs, psicóloga in Jornal de Notícias

Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2011

Como tirar a fralda a uma criança com autismo


O atraso de desenvolvimento presente no autismo dificulta a aquisição de habilidades, diferentemente de pessoas com desenvolvimento típico, que a medida que crescem desenvolvem maior independência de modo gradual e progressivo. Com isto, é necessário que seja ensinado às pessoas com autismo tudo, até mesmo o que parece uma habilidade simples que ao longo da vida aprende-se de forma espontânea, para eles tem que ser ensinada.
Um problema levantado pelos pais de pessoas com autismo é a dificuldade em tirar a fralda dos filhos.
Inicialmente, o mais importante para começar o desfralde de alguma criança com autismo é ter em mente que será necessário paciência, persistência e confiança, porque para obtermos sucesso no desfralde, é indicado iniciar quanto mais cedo possível, em torno de dois anos e meio e três anos de idade. E ao tomar a decisão de iniciar o desfralde, a fralda não deverá mais ser colocada novamente na criança em nenhum momento seja para dormir, passear de carro, ficar na escola.
Como já foi explicado anteriormente crianças com autismo são diferentes de crianças com desenvolvimento típico, sendo assim sua mente fica confusa, sem saber quando pode fazer as necessidades na fralda ou não.
Pode ocorrer de algumas crianças segurarem suas necessidades até o momento em que é colocada a fralda, por fazerem associação de que xixi e cocô é só na fralda. Por isso é necessário que ela associe as suas necessidades agora ao vaso sanitário e não seja mais colocada a fralda.
É recomendado levar a criança ao banheiro com frequência, inicialmente com pequenos intervalos de tempo, deixando sempre a criança no vaso sanitário um tempo também inicialmente reduzido.
Começamos com os pequenos intervalos de tempo que devem ser aumentados conforme o desenvolvimento do ensino. Exemplo: iniciou-se o treinamento com um intervalo de dez em dez minutos, deixando a criança de 30 segundos a um minuto no vaso sanitário, foi observado que a criança está fazendo várias vezes as suas necessidades no vaso sanitário, com isso pode-se aumentar o intervalo de tempo de idas ao banheiro para 15 em 15 minutos e assim sucessivamente.
Sugere-se também registrar os horários em que ocorrem o xixi e o cocô para ser possível ter uma noção de seus horários e lhe dar uma idéia do tempo de intervalo que pode ser praticado com a criança.
O tempo que se permanece no banheiro tem que ser prazeroso, deve-se levar brinquedos, música, algo que seja bom e que a criança goste, para que a ida ao vaso sanitário seja positiva e reforçadora a ela.
Lembrando das palavrinhas chaves: paciência, persistência e confiança, deve-se durante a noite acordar para levar a criança ao banheiro também. Recomenda-se que não dê muito líquido a ela no período da noite. Se não for possível acordar a criança durante a noite, devido a um distúrbio de sono, que seja colocada a fralda com ela dormindo e retirada antes de acordar.
Quando fizerem qualquer necessidade no vaso sanitário, deve-se elogiar e reforçar com algo que a criança gosta. A questão do reforço é algo muito bom para obtermos resultados positivos, pois motiva as crianças. Os reforços podem ser: receber um brinquedo, ouvir a música que gosta, ver o DVD que gosta, ganhar uma guloseima (um pedaço de chocolate, bala, salgadinho), cantar para ele ou apenas um elogio social (Muito bem! Parabéns!) entre outras coisas que a criança goste.
Esses reforços também aos poucos vão sendo retirados, assim que a criança começa a associar suas necessidades fisiológicas ao banheiro e começa a obter o controle esfincteriano. A retirada também deve diminuir aos poucos, em alguns momentos damos, em outros não.
É importante ter sempre em mente que não tem um tempo certo para a criança aprender, cada uma tem seu tempo.
Para obter sucesso é fundamental que todos que estejam envolvidos com a criança ajam igualmente com ela. Se apenas quando ela estiver com os pais ficar sem fralda, mas quando for para a escola ou para a casa dos avôs ficar de fralda, o treinamento será muito sofrido para a criança e a possibilidade de dar certo será menor.
Quando a criança obteve o controle esfincteriano e aprendeu a usar o banheiro, o próximo passo a ser ensinado deve ser ensinar-se a limpar-se com menos apoio.
Como em qualquer ensino, o importante para que a criança obtenha maior nível de independência e autonomia é não fazer nada por eles, e sim com eles, ou seja, para ensiná-los a limpar-se é necessário dar apoio para a criança se limpar, apoiando fisicamente sua mão e retirar essa ajuda gradativamente, aos poucos.
É possível que algumas pessoas com autismo necessite sempre de um pequeno apoio, mas é necessário que não desista de ensiná-los para que possam alcançar pelo menos um pequeno nível de independência.
Durante o desfralde, deve-se ficar atento a alguns sinais que podem vir a prejudicar a criança, como segurar muito tempo a urina ou prisão de ventre. Inicialmente é normal ocorrer prisão de ventre, porém, caso ocorra com freqüência, causando mal estar à criança, é aconselhável procurar orientação médica, tanto para prisão de ventre, quanto para segurar muito tempo a urina – para que não ocorra uma infecção urinária.
Tudo isso é fundamental para dar a chance das crianças desenvolverem suas habilidades de forma mais autônoma e independente, para uma melhor qualidade de vida presente e futura.

Carolina Dutra Ramos é pedagoga, com habilitação em educação especial e pós-graduada em Psicopedagogia, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Trabalha na Associação Amigos do Autisa (AMA), de São Paulo, desde 2004, e atualmente é coordenadora pedagógica das unidades Lavapés e Luis Gama da instituição. E-mail: carol.dramos@uol.com.br

retirado do BlogueCaminhos do Autismo

Sábado, 11 de Setembro de 2010

O controle dos esfincteres

Já saiu das fraldinhas! Assim dizem os pais, muito eufóricos, quando o seu filho já solicita o uso da sanita. É um motivo de comemoração, por ser entendido como mais um passinho no sentido do crescimento do bebé.

E é verdade!
Esta nova fase de "bebê sequinho", que tanto encanta aos pais, ocorre, em sua maioria, em torno dos 2 ou 3 anos de idade, alguns mais cedo, outros um pouco mais tarde, mas sempre por volta desta faixa etária.

Muito cedo pode ser prejudicial

Muitos pais se questionam sobre a forma correta para dar início a este novo ensinamento.
É importante saber a época do inicio; treinos muito precoces acabam não sendo benéficos, stressam a criança e os pais; e nem sempre têm um resultado final positivo.

Início do treino
O período em que se pode iniciar é, em geral, logo depois que o bebê já sabe correr com certa segurança e autoconfiança. Esta é uma etapa do desenvolvimento neuro-psico-motor em que a coordenação motora já está melhor estabelecida. Pode-se então começar, a partir daí, o treino do controle dos esfíncteres de forma mais criteriosa, não só sob o ponto de vista orgânico, mas também emocional - esta é também uma fase em que o bebê já está inserido na Linguagem. A comunicação se faz assim de forma mais adequada.
Primeiro se treina o controle do esfíncter anal, depois o controle do esfíncter urinário. Primeiro durante o dia e depois durante a noite.
Todo o treinamento deve ser feito de forma bem tranqüila, sem pressão e/ou chantagem, para que entre na rotina sem angústia, sem culpa e sem receio.

Deve ser comemorado cada sucesso, mas sem grandes alardes para não dar a conotação de que são os pais os únicos interessados neste sucesso. Lembre-se de que crianças são os melhores leitores das emoções paternas e maternas e sabem lidar com a emoção dos pais muito sagazmente e sabiamente! E daí a inverter a situação é um pulo.
Quando a criança entende, com tranqüilidade, o significado desta nova etapa, ela passa, então, a solicitar ajuda à mãe, ao pai ou à babá e deve ser sempre atendida de forma mais imediata possível, mas sem exageros para evitar parecer uma situação emergencial. Por mais inconveniente que seja o momento da solicitação, evite ao máximo sugerir fazer "nas fraldinhas mesmo, agora pode". Ela ficará insegura diante desta resposta e acabará por se deixar envolver pelo clima de ambigüidade e desistência, tornando-se muito mais difícil depois resgatar esta etapa.

Quando é necessário um retrocesso
Quando em situações extremas como, por exemplo, uma doença diarréica, fica, por certo, mais complicado administrar toda a situação, em especial se ocorrer em período de treino recente. É muito importante, no entanto, que seja explicado que é por causa da doença e que logo, logo, quando sarar, vai poderdeitar fora de novo as fraldinhas. E cumprir e estimular o combinado!

Privacidade é necessário
É importante também que ele tenha seu "espacinho" - principalmente no início do treino. Valorizar a privacidade faz parte da orientação. Pode ser um peniquinho colocado ao lado da sanita para que ela possa, junto com o adulto que a acompanha, despejar e dar a descarga.
Lembro-me de uma criança de 3 anos de idade que não conseguia ir ao banheiro e quando forçado a sentar na sanita ficava apavorado. Tremia e gritava a um ponto que era necessário sair casa de banho e ser aconchegado para se acalmar. Um dia, eledisse, chorando muito, que tinha medo de ser engolido pela descarga.

As fantasias infantis são inúmeras e é sempre conveniente estar atento a situações de medo e de recusa a novos hábitos. Por trás de muitos "medinhos" se esconde uma fantasia que até para os adultos podem ser assustadores.

Acidentes podem acontecer, e lá um belo dia, depois de muito acerto, lá se vai um xixi na roupa ou na cama. Não se assuste nem seja muito rigorosa na pontuação do erro. Isto é possível e passível de acontecer nesta fase inicial, em especial num dia de muito cansaço ou de muita agitação. O ideal é ser compreensivo e entender o ato como um fcato acidental. Isso o deixará mais tranqüilo para continuar em seu ritmo já estabelecido.

O controle dos esfíncteres é uma das etapas em que todos participam de forma direta ou indireta, desde pais e familiares, até os cuidadores em creches e escolinhas.

Todas as etapas do desenvolvimento de uma criança são sempre gratificantes. Todos ficam felizes com o bom desempenho e a criança também.
Os comentários em volta dela: "não usa mais fraldinhas" a deixa em posição privilegiada e de destaque. Ela sente isso, ela sente o progresso e o seu próprio caminhar em direção ao mundo dos adultos. Sente-se mais independente e se regozija junto com quem a orienta. Cuide então, para que esta etapa seja vencida de forma suave, tranqüila, com o mínimo de preocupação e o máximo de alegria por ter sido bem apreendida.

 




 




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